04/08/2020

TRILOGIA MADDADDAM: PANDEMIA E DISTOPIA

A trilogia MaddAddam, escrita pela canadense Margaret Eleanor Atwood (1939-   ), é uma boa pedida de leitura para o momento que vivenciamos. Embora seja marcada por certo pessimismo, a literatura distópica pode trazer elementos analíticos para se pensar o nosso presente e, dessa forma, realizar uma crítica da realidade que agora se apresenta.

No primeiro livro, Oryx e Crake (2003), a narrativa põe em relevo a figura de um homem chamado “Homem das neves”, vivendo em cima de uma árvore no mundo que restou após uma pandemia e o colapso da civilização. Ele se considerava o último sobrevivente, vivendo com seres humanos geneticamente modificados criados pelo cientista Crake e preparados para sobreviver à disseminação de um vírus apocalíptico. O Homem das Neves, que na verdade se chama Jimmy, vai apresentando a história ao leitor a partir de suas memórias, desde a sua infância nos complexos residenciais administrados por corporações até a eclosão da pandemia que desmonta a vida de todos.

O Ano do Dilúvio (2009) apresenta a vida fora dos complexos, na terra dos plebeus ou Plebelândia, a partir das narrativas de Toby e Ren. Esse livro permite conhecer melhor Adão Um e a comunidade dos Jardineiros de Deus, grupo religioso que procurava articular fé e ambientalismo, vivendo uma vida de simplicidade, de reciclagem de materiais, apicultura e cultivo de produtos orgânicos.  O cenário é o mundo do primeiro livro pós-pandemia. Assim, mediante as memórias de Toby e Ren, temos acesso a informações sobre a Plebelândia e sua criminalidade.

No terceiro livro, MaddAddão (2013) predomina a perspectiva de Toby na narração dos acontecimentos. Após ter ficado isolada durante a pandemia, ela reencontra suas antigas conhecidas, Ren e Amanda, bem como o Homem das Neves e os humanoides criados por Crake. No avançar da história, outros sobreviventes são encontrados, alguns jardineiros de deus e alguns cientistas do grupo bioterrorista MaddAddão que trabalharam no projeto que criou os humanoides. Toby reencontra Zeb, irmão de Adão Um e seu amigo da época dos Jardineiros de Deus, que lhe conta como surgiu tanto os Jardineiros de Deus como o grupo bioterrorista MaddAddão, que visava derrubar o controle das grandes corporações.

O desfecho? Não quero adiantar aqui, mas vou lhe dar boas razões para ler os livros: a trilogia MaddAddam contribui para denunciar os valores capitalistas de exploração das pessoas para geração de lucro, os riscos presentes nas manipulações genéticas e os problemas de pesquisas científicas desvinculadas de princípios éticos e alinhadas com visões eugenistas. Além disso, alerta para o perigo de se entregar o controle da vida social nas mãos da iniciativa privada, capaz de produzir um imenso abismo entre as classes sociais.

 

Ordem de Publicação dos livros no Brasil.

ATWOOD, Margaret. Oryx e Crake. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

ATWOOD, Margaret. O Ano do dilúvio. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

ATWOOD, Margaret. MaddAdão. Rio de Janeiro: Rocco, 2019.


3 comentários:

  1. Eu sou completamente encantada pela obra e pela própria Margareth Atwood. Assim como Octavia Butler, tem a incrível capacidade de escrever distopias não tão ficcionais assim e nos fazer refletir sobre o presente, desnaturalizando processos que estão passando despercebidos. A trilogia MaddAddam foi meu encontro com a autora e nunca mais nos separamos.

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    1. A própria Margareth Atwood afirmou que faz "ficção especulativa", procurando falar de coisas que podem acontecer a partir de certos desdobramentos do presente. Assim que possível vou dar uma conferida em Octavia Butler.

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  2. Muito interessantes os dois relatos. Lembrou-me do filme: Jardineiro Fiel, uma reflexão bioética sobre a pesquisa e a indústria farmacêutica; sobre o significado da vida. E, o que nos reporta a Admirável mundo novo de Aldous Huxley (1932) ou toda a obra de Júlio Verne (1865, 1869, 1872)já abordava, a partir do vivido, outros universos, dantes no campo da ficção e que hoje, são realidade... E, que muitas vezes, servem como alertas acerca do que não se deve fazer hoje, para que tenhamos um futuro diferente... Enfim, Também vou dar uma conferida nas obras citadas. Obrigada pela partilha.

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