20/08/2020

POR UMA SOCIOLOGIA DAS MONOGRAFIAS NO CURSO DE PEDAGOGIA

 

A pesquisa se constitui no desafio essencial da universidade e da educação moderna, definindo-se como princípio científico e educativo (DEMO, 2004). Enquanto princípio científico, a pesquisa apresenta-se como a instrumentação teórico-metodológica necessária para se construir conhecimentos. Enquanto princípio educativo constitui-se como elemento fundamental da educação emancipatória, contribuindo para um questionamento sistemático, crítico e criativo da realidade.

As pesquisas desenvolvidas pelos alunos dos cursos de pedagogia, apesar de toda tecnologia disponível na atualidade, continuam ainda como um território desconhecido em muitas universidades públicas do Nordeste. Esses alunos produzem monografia para fins de conclusão de cursos que, na grande maioria dos casos, viram apenas mais alguns volumes nas prateleiras das bibliotecas. Essa realidade é ainda mais forte nos campus localizados mais distantes das capitais.

Há uma quantidade considerável de monografias produzidas que indica, de um lado, uma relevante e significativa produção científica dentro do curso, e, de outro, a necessidade de organização e sistematização desse conhecimento, visando assim, por meio da análise das monografias apresentadas no curso de Pedagogia da UESPI em Picos, o aperfeiçoamento do conhecimento científico, da pesquisa e do ensino no âmbito do curso.

Compreendemos, diante dessa situação, a necessidade de realizar uma pesquisa que, no âmbito de uma universidade pública, apresentasse de forma objetiva um quadro dos trabalhos produzidos, analisando sobretudo temas, as razões e as formas de construção metodológica destes. Realizei essa tarefa, em parte, analisando monografias do ano de 2009 a 2014. Espero, agora, momento oportuno para atualizar minhas investigações nessa área.

 

Referências

DEMO, P. Pesquisa e construção de conhecimento: metodologia científica no caminho de Habermas. 6 ed. Rio de janeiro: Tempo Brasileiro, 2004. (Biblioteca tempo universitário, 96)

09/08/2020

A PROPÓSITO DO DIA DOS PAIS E DA LEITURA

Não nascemos sabendo ler nem gostando de ler, mas aprendemos essa prática junto com muita coisa em nossa vida. A família, como agente de socialização, tem um papel relevante nesse processo, repercutindo de forma decisiva em nossa educação escolar. Aprendi na universidade que o sociólogo francês Pierre Bourdieu falava em capital cultural e insistiu no fato de que as desigualdades sociais são reproduzidas pela educação escolarizada. Considerando as minhas origens sociais, a conclusão preliminar a que cheguei foi de que estar ali, na universidade e ter desenvolvido tanto gosto por ler não era a regra. Explico.

Venho de uma família de parcos recursos financeiros da periferia de Fortaleza. Meus pais são oriundos do interior do Ceará, mais precisamente de Limoeiro do Norte. Eles nunca chegaram a concluir sequer o ensino fundamental. Meu pai trabalhava duro para sustentar a família e minha mãe se encarregava das tarefas da casa e  de educar, além dos filhos, cunhados mais novos e sobrinhas. Todo esse pessoal foi parar na escola, apesar de todas as dificuldades, pelos esforços dos meus pais.

Meu pai era um trabalhador braçal, carregador de malas no antigo Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza-CE.  Ele trabalhava um dia e descansava no outro. Saía em uma madrugada e voltava na outra. O desgaste dessa atividade custou caro para a sua saúde. Em casa, lembro que dormia boa parte do tempo, não era de conversar muito, fazia algum ou outro reparo doméstico, engraxava e consertava os próprios sapatos (sempre brilhantes), saía para fazer algumas compras  e, no final da tarde, tomava uma dose de cachaça na bodega do seu Zequinha. No meio dessa rotina havia uma pausa para dar uma olhada em  algum dos jornais que trazia.

Costumo dizer aos meus alunos que meu pai foi a minha Internet. Por trabalhar no aeroporto, meu pai tinha acesso a jornais e revistas que vinha de todo país (de S. Paulo, por exemplo, a Folha e o Estadão, eram constantes) e até de outros países. Ele pedia exemplares ao pessoal da manutenção dos aviões ou aos passageiros, recolhendo também os que eram descartados no saguão. Quando ele chegava em casa de madrugada, junto com o pão quentinho embrulhado em papelão e amarrado com um cordão, trazia uma carga de jornais e revistas, que eram disputados pelos meus irmãos (“revista é minha, jornal eu leio primeiro”, dizia o Jota, o mais velho dos meus irmãos). Periodicamente, também, comprava romances para minha mãe ler. No meu caso, inicialmente, restavam-me os cadernos e os encartes para criança, que muito me interessavam.

Meus irmãos foram partindo um a um para outros estados por razões diversas, mas fiquei com meus pais e  passei a ser o principal destinatário dos jornais e revistas com o decorrer do tempo. Também me apropriei de boa parte dos livros de ficção científica do Jota que haviam ficado em casa. Além disso, ao ficar com a tarefa de levar a marmita com o almoço do meu pai, procurava economizar passagens de ônibus para poder comprar livros de bolso. Assim, em linhas gerais, foi que começou a ser construído meu interesse e gosto pela leitura.

Pude refletir melhor o meu acesso à universidade quando li “Sucesso escolar nos meios populares: as razões do improvável”, de Bernard Lahire, que construiu suas reflexões sociológicas contra e a favor de Bourdieu.  Percebi que há diversos fatores que podem fazer com que determinadas condições objetivas  sejam superadas para que as pessoas avancem no seu processo de escolarização. Eu já havia aprendido na prática que minhas origens sociais não representavam a palavra final sobre meu destino escolar.

Meu pai faleceu há 20 anos e, infelizmente, não conseguiu me ver chegando ao Mestrado nem ao Doutorado. Lembro-me dele mais fortemente no dia do meu aniversário  e no dia dos pais. Tenho muitas razões para agradecer a Deus pelo pai que tive e sempre serei grato por tudo o que ele me propiciou, sobretudo por ter contribuído para que eu adquirisse as disposições necessárias para viver o mundo da leitura.

05/08/2020

DOS AFETOS NA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO

Minha vida de estudante começou muito cedo. Na escola institucionalizada, aos cinco anos. Nela já entrei  sabendo ler graças ao esforço da Tia Carmosa (que tinha uma escolinha no alpendre de casa) e o apoio de uma palmatória (“é o novo!” Você pensou). Essas vivências me ajudaram a compreender posteriormente as experiências de construção de relações de amor e ódio entre professores e alunos. A minha relação com a leitura é outra história e vai ficar para outra postagem. Vamos ao ponto desta.

Era o início dos anos 1970. A escola, EEFM Mariano Martins, ficava na periferia de Fortaleza, no Bairro Henrique Jorge, onde cursei do 1º ao 4º ano. Lembro de quando cheguei por lá e de que, por me acharem muito novinho, quase me mandaram de volta para casa. Provei que tinha de ficar ali ao ler meu nome escrito na lista de alunos colada na porta. Foi um espanto na escola. Lembro também da merenda escolar inesquecível que as “tias” preparavam. Não tenho também como esquecer as épicas batalhas de carrapicho e mamona na lateral da escola. Agora, se tem algo que me marcou mesmo foi o encontro com uma professora me incentivou aos estudos no 3º ano.

O nome da professora, Natércia. Foi amor à primeira vista, confesso. Quem nunca se apaixonou por alguma professora?  E não era difícil gostar dela. Era realmente linda e ensinava muito bem. A classe aprendia qualquer coisa que ela ensinasse e todo mundo era tratado com atenção.

Tinha um detalhe: eu mal conseguia me expressar, ficava nervoso e a voz simplesmente não saía. Às vezes, gaguejava. Quando chegava a hora de ler em voz alta na sala, a risada da classe era geral. Era um sacrifício. A Natércia, então, me colocou numa peça teatral na qual eu tinha só uma fala, mas valeu. Todo mundo esperando que eu gaguejasse, mas falei certinho. Veio a chamada para participar de um jogral, onde contei com a ajuda de uma aluna chamada Joelma em sucessivos ensaios, e outras atividades. Assim, o tempo foi passando e sem que eu percebesse, a dificuldade de me expressar havia me deixado.

Terminou o ano letivo e vieram as férias. Reiniciada as aulas, procurei e não vi mais a Natércia. “Foi para São Paulo”, disse a diretora. Nunca mais tive notícias dela e a escola pareceu meio triste por uns dias, mas tudo bem. Ela, como professora, já havia feito parte dela e ficou no meu coração.

Afeto e incentivo, hoje entendo bem isso, são elementos bem importantes nessa relação professor-aluno. Fico pensando no quanto a pandemia está nos fazendo perder nesse campo, no quanto se perde de afetividade nas novas relações que se estabeleceram a partir dos ambientes virtuais de aprendizagem. Sei que ainda vou pensar muito nesse assunto.


04/08/2020

TRILOGIA MADDADDAM: PANDEMIA E DISTOPIA

A trilogia MaddAddam, escrita pela canadense Margaret Eleanor Atwood (1939-   ), é uma boa pedida de leitura para o momento que vivenciamos. Embora seja marcada por certo pessimismo, a literatura distópica pode trazer elementos analíticos para se pensar o nosso presente e, dessa forma, realizar uma crítica da realidade que agora se apresenta.

No primeiro livro, Oryx e Crake (2003), a narrativa põe em relevo a figura de um homem chamado “Homem das neves”, vivendo em cima de uma árvore no mundo que restou após uma pandemia e o colapso da civilização. Ele se considerava o último sobrevivente, vivendo com seres humanos geneticamente modificados criados pelo cientista Crake e preparados para sobreviver à disseminação de um vírus apocalíptico. O Homem das Neves, que na verdade se chama Jimmy, vai apresentando a história ao leitor a partir de suas memórias, desde a sua infância nos complexos residenciais administrados por corporações até a eclosão da pandemia que desmonta a vida de todos.

O Ano do Dilúvio (2009) apresenta a vida fora dos complexos, na terra dos plebeus ou Plebelândia, a partir das narrativas de Toby e Ren. Esse livro permite conhecer melhor Adão Um e a comunidade dos Jardineiros de Deus, grupo religioso que procurava articular fé e ambientalismo, vivendo uma vida de simplicidade, de reciclagem de materiais, apicultura e cultivo de produtos orgânicos.  O cenário é o mundo do primeiro livro pós-pandemia. Assim, mediante as memórias de Toby e Ren, temos acesso a informações sobre a Plebelândia e sua criminalidade.

No terceiro livro, MaddAddão (2013) predomina a perspectiva de Toby na narração dos acontecimentos. Após ter ficado isolada durante a pandemia, ela reencontra suas antigas conhecidas, Ren e Amanda, bem como o Homem das Neves e os humanoides criados por Crake. No avançar da história, outros sobreviventes são encontrados, alguns jardineiros de deus e alguns cientistas do grupo bioterrorista MaddAddão que trabalharam no projeto que criou os humanoides. Toby reencontra Zeb, irmão de Adão Um e seu amigo da época dos Jardineiros de Deus, que lhe conta como surgiu tanto os Jardineiros de Deus como o grupo bioterrorista MaddAddão, que visava derrubar o controle das grandes corporações.

O desfecho? Não quero adiantar aqui, mas vou lhe dar boas razões para ler os livros: a trilogia MaddAddam contribui para denunciar os valores capitalistas de exploração das pessoas para geração de lucro, os riscos presentes nas manipulações genéticas e os problemas de pesquisas científicas desvinculadas de princípios éticos e alinhadas com visões eugenistas. Além disso, alerta para o perigo de se entregar o controle da vida social nas mãos da iniciativa privada, capaz de produzir um imenso abismo entre as classes sociais.

 

Ordem de Publicação dos livros no Brasil.

ATWOOD, Margaret. Oryx e Crake. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.

ATWOOD, Margaret. O Ano do dilúvio. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.

ATWOOD, Margaret. MaddAdão. Rio de Janeiro: Rocco, 2019.


RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO AMBIENTE DIGITAL DE APRENDIZAGEM E TECNOLOGIAS ASSISTIVAS

Por Marcelo Reges e Napoleão Mendes

 

O que é necessário para uma boa relação entre Professor e Aluno no Ambiente Digital de Aprendizagem?  

 A palavra “Respeito” expressa um dos elementos necessários para que se estabeleça uma boa relação entre professores e alunos no ambiente digital de aprendizagem. Seguindo a perspectiva de Morin (apud Silva, 2010), essa atitude de respeito envolve três princípios: a livre expressão, a democracia (conflitos não-violentos) e a pluralidade de ideias (verdades).

O respeito às diferenças é fundamental nessa relação. Quando relacionamos a palavra respeito à educação para pessoas com deficiência necessariamente pensamos na Inclusão. Para isto é fundamental políticas públicas educacionais voltadas para implementação, fortalecimento e manutenção de Tecnologias Assistivas. Mas, o que são as Tecnologias Assistivas? 

 O que são Tecnologias Assistivas?

 As tecnologias assistivas podem ser consideradas como ferramentas, metodologias, produtos, estratégias ou recursos para a Inclusão de pessoas com deficiências, incapacidades ou mobilidade reduzida na vida social. Embora pudéssemos falar em autonomia e qualidade de vida, o termo “inclusão” expressa bem o propósito dessas tecnologias.

No cotidiano das Comunidade Escolares nos deparamos com inúmeras realidades. A Inclusão não é  somente um tema emergente mas, também, são várias ações que envolvem todos os profissionais da escola para garantir a acessibilidade e a  permanência de pessoas com deficiência. O professor é uma figura central, pois é por meio das práticas didático-pedagógicas que este respeito e inclusão se tornam realidade.  

 

REFERÊNCIAS

SILVA, M. Sala de aula interativa. Educação, comunicação, mídia clássica, internet, tecnologias digitais, arte, mercado, sociedade, cidadania. 5 ed. São Paulo: Edições Loyola, 2010.


POR UMA SOCIOLOGIA DAS MONOGRAFIAS NO CURSO DE PEDAGOGIA

  A pesquisa se constitui no desafio essencial da universidade e da educação moderna, definindo-se como princípio científico e educativo (DE...